sábado, 11 de janeiro de 2014

A verdadeira abertura do Papa Francisco


O Papa Francisco, na realidade, mais do que ver diante de si “problemas” para a fé, vê questões a disputar e desafios a enfrentar: janelas e não muros. Anunciando sua renúncia ao ministério petrino, Bento XVI havia retratado o mundo de hoje como “sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé”. E as questões abrem debates", escreve Antonio Spadaro, diretor da revista Civiltà Cattolica, em artigo publicado no jornal Corriere della Sera, 07-01-2014.

Eis o artigo.


O desafio educativo é um dos grandes desafios do mundo contemporâneo. O Papa Francisco e reafirmou recentemente em sua conversação com os Superiores Gerais, publicada em La Civiltà Cattolica. Infelizmente alguns títulos jornalísticos que falaram de “abertura aos casais gay” se anteciparam na compreensão daquilo que o Papaefetivamente disse e do grande desafio que ele delineou. A instrumentalização de suas palavras acabou sendo funcional tanto aos seus detratores de “direita”, como a quem o exalta para usá-lo à “esquerda”.

O que disse exatamente o Papa? Que o educador “deve interrogar-se sobre como anunciar Jesus Cristo a uma geração que muda”. Este é o ponto: “a tarefa educativa é hoje uma missão-chave, chave, chave!”. Para ser mais claro, deu alguns exemplos, citando algumas experiências suas em Buenos Aires sobre a preparação que se requer para acolher incontestes crianças a educar, rapazes e jovens que vivem em situação de mal-estar com a família: “Recordo o caso de uma criança muito triste que enfim confiou à professora o motivo do seu estado de ânimo: “a namorada de minha mãe não gosta de mim”.“Os percentuais de rapazes que estudam nas escolas e que têm os pais separados são elevadíssimos” São duas situações diferentes, mas que, com clareza, colocam desafios complexos: a dos filhos de pais divorciados e a dos filhos que se encontram a viver tendo como referência doméstica duas pessoas do mesmo sexo.

O Papa Francisco, na realidade, mais do que ver diante de si “problemas” para a fé, vê questões a disputar e desafios a enfrentar: janelas e não muros. Anunciando sua renúncia ao ministério petrino, Bento XVI havia retratado o mundo de hoje como “sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé”. E as questões abrem debates.

Francisco acolheu o testemunho de Bento: se os problemas não se transformam em desafios, acabam por bloquear a ação e a reflexão, ou então acabam por enrijecer a consciência atormentada pelos temores e pela desolação espiritual. Bergoglio enfrenta, portanto, a realidade com coragem e confiança em Deus, como homem de fé que é. OPapa tem sempre os olhos bem abertos sobre a realidade, e sabe perfeitamente que os desafios de hoje são maiores do que os de outrora. Sabe que – palavras suas – “as situações que vivemos hoje colocam novos desafios que às vezes são até difíceis de compreender”.

Não se podem fechar os olhos. Por quê? Por um motivo claro e preciso: porque é preciso anunciar o Evangelho a uma geração sujeita a rápidas mudanças. O Papa, portanto, não “abriu aos casais gays”, como intitularam algumas agências, ligando suas palavras a um recentíssimo debate nacional. O Papa, ao invés, abriu os olhos aos desafios que esta mudança em ato na nossa sociedade coloca ao anúncio do Evangelho. Neste sentido, portanto, é ao invés correto dizer que o Papa iniciou um debate sobre a educação.

Eis então, de fato, as suas perguntas: “Como anunciar Cristo a estes garotos e garotas? Como anunciar Cristo a uma geração que muda?” E, enfim, o seu apelo: “É preciso estarmos atentos para não subministrar aos mesmos uma vacina contra a fé”. Bergoglio supera todo enrijecimento à direita e à esquerda, e afirma uma coisa que realmente poucos notaram: o desafio educativo se conecta ao desafio antropológico. Aqui está um ponto calidíssimo que o Papa colocou com sua costumeira simplicidade, admoestando assim o educador cristão: há situações que até nos fatigamos para compreender, mas que somos chamados a enfrentar se quisermos que o Evangelho ainda seja anunciado a toda criatura.

A nosso ver, como tinha comentado a Cristiana há alguns dias aqui no blog, chamando a atenção justamente para essa deturpação das palavras do papa pela imprensa ("O que o Papa disse, e o que ele NÃO disse, sobre o casamento gay"), mais fundamental ainda do que essa ênfase na necessidade da educação é a insistência do Papa na necessidade de abertura para o diálogo, para o qual todos na Igreja precisamos nos educar. Todos precisamos nos educar para nos aproximarmos do outro de olhos, corações e mãos abertos. :-)

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