domingo, 13 de outubro de 2013

O rosa


O rosa é uma das cores que mais identifica os gays, a outra é o lavanda, mas a força semântica do rosa é ainda maior. Os homossexuais enviados para o campo de concentração eram identificados com um triângulo rosa, quando o grupo Act-Up (Action to Unleash Power) de luta contra a epidemia de Aids foi criado, eles inverteram o triângulo e o utilizaram como símbolo. No entanto, o rosa não está presente na bandeira gay, porque o tecido era difícil de ser encontrado.

A novidade da Parada gay do Rio deste ano foi o carro da Mangueira que trouxe o rosa para a avenida. 
Quem criticava a parada gay afirmando que ela era apenas um carnaval fora de época, que não era um ato político, este ano teve a comprovação absoluta disso.

No entanto, essa convicção é um equívoco. Desde a primeira parada gay em 1970 nos EUA, ela já era uma comemoração, um registro, um aniversário da revolta de Stonewall no ano anterior. 

A primeira parada gay do Brasil aconteceu aqui mesmo no Rio em 1995 depois da Conferência da ILGA (International Lesbian and Gay Association), até então, o movimento gay local não havia tido força para fazer uma parada. De lá até esta 18ª edição, a realidade mudou bastante e as paradas contribuíram e foram um registro dessas mudanças.

Elas são uma celebração da vida, uma homenagem aos que foram, um carro este ano homenageava Gabriela Leite, a criadora da Daspu, que lutou pela dignidade e direitos das prostitutas. Cada pessoa que participa da parada sabe porque está ali, pelo que passou para estar ali, ela é um símbolo de liberdade, para que todas as pessoas no Brasil e no mundo, inclusive na Rússia e países africanos onde elas foram proibidas, que a população LGBT tem o direito de ser reconhecida e respeitada. 

Quem lutou e luta pelos direitos humanos e contra a aids, pode naquele momento celebrar seus esforços, olhar ao redor e contemplar um mundo diferente e se sentir bem por ter contribuído para as mudanças.

É também um momento para se fortalecer e ter energia para enfrentar os problemas que afligem a vida da população LGBT. 

A energia do Act-Up, o seu triângulo rosa invertido está fazendo falta, o silêncio continua matando, a população gay é oito vezes mais afetada pela epidemia de aids. Na Inglaterra, um em cada 7 homens gays é HIV+. No Brasil, o grupo de homens homossexuais voltou a ser o mais atingido pela epidemia. Os jovens gays não temem a aids como os gays com mais de 40 anos. A previsão é de que os próximos dados estatísticos sobre a epidemia no Brasil vão deixar todos estarrecidos. 

A parada gay é uma festa doce e amarga. O rosa que alegra, também entristece. São tantos os problemas, os transgêneros ainda são o grupo mais marginalizado, os que precisam mesmo de mais atenção do movimento, a maioria apresenta a marca da pobreza, da dificuldade de acesso ao ensino, à qualificação, da necessidade de se prostituir, da violência que sofrem, não é a toa que estão presentes, desde a revolta de Stonewall é assim, a linha de frente de batalha sempre foi a dos transgêneros, a partir de pioneiras como Silvia Rivera nos EUA e Jane Di Castro e Eloína que estavam no carro que abriu a parada gay deste ano. Jane desde a primeira parada do Rio canta o Hino Nacional na abertura. 

Os transgêneros são a maioria e isso não espanta porque são os que mais sentem necessidade de estar ali. A parada também teve um grupo de black blocs, um deles carregava o cartaz: "Gay discreto é homofobia. Contra a heterossexualização da política."

Apenas um carro trazia uma mensagem religiosa. Na realidade de tolerância em relação às outras religiões, em especial, às de matriz africana e um grupo à frente desse carro, carregava o cartaz de uma igreja evangélica inclusiva.

Há uma solução bem simples para quem critica a parada gay por não se sentir representado: ir lá; e alguns membros do Diversidade Católica estavam presentes. 

Estamos juntos nessa luta pelos direitos, inclusive o de celebrarmos "a dor e a alegria de sermos quem nós somos".

Texto: Hugo F Nogueira

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