sexta-feira, 26 de julho de 2013

“Ele vem oculto até nós, e a salvação consiste no fato de o reconhecermos”



O novo tipo de vida que a Ressurreição possibilita não depende da evidência forense da tumba vazia, ou da evidência circunstancial das aparições.

Encontramos a evidência na vida cotidiana. A fé na ressurreição não é algo insano, mas reside em um tipo particular de senso e de racionalidade. As ideias quanto ao que constitui a razão são historicamente variáveis. Assim como o amor, a fé na Ressurreição tem sua própria razão e qualidade de ser, um elevado grau de inteireza, que alcançamos mais do que aprendemos. As experiências, até mesmo as aparições ligadas à Ressurreição, surgem e desaparecem.

Tornam-se memórias. Nós, contudo, reconhecemos a Ressurreição naquilo que os primeiros discípulos chamaram de o “Dia de Cristo”. Trata-se do momento presente iluminado pela capacidade que a fé tem de ver o invisível, de reconhecer o que é óbvio. Como escreveu Simone Weil: “Ele vem oculto até nós, e a salvação consiste no fato de o reconhecermos”.

A pergunta que Jesus nos faz ["E vós, quem dizeis que eu sou?"] é a dádiva oferecida a nós pelo rabbuni: sua própria formulação concede a “graça do guru”.

Em todas as épocas, sua pergunta é a dádiva que espera ser recebida. Seu poder, simples e sutil, de despertar o autoconhecimento em nossa própria experiência da Ressurreição é perene. São Tomás se utiliza do tempo presente para falar da Ressurreição. Ele pode ser entendido como se afirmasse que a Ressurreição (...) transcende todas as categorias de espaço e de tempo. De maneira semelhante, os ícones da Ressurreição da tradição ortodoxa sugerem a mesma transcendência e mostram que o poder que ressuscitou Jesus continua presente e ativo.

O trabalho essencial de um mestre espiritual é apenas este: não nos dizer o que fazer, mas ajudar-nos a ver quem somos. O Eu que passamos a conhecer através de sua graça não é um ego pequeno, isolado e separado que se apega às suas memórias, desejos e medos. É um campo da consciência que se assemelha, e dela é indivisível, à consciência de que Deus é, ao mesmo tempo, a revelação cósmica e bíblica: o grande e único “EU SOU”.

- Laurence Freeman, OSB
Extraído do livro Jesus, O Mestre Interior – Martins Fontes, São Paulo, 2004, pgs. 63 e 64.

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