quinta-feira, 13 de junho de 2013

O comentário do Papa Francisco sobre o "lobby gay"



Um repórter da CNN disse que o Papa acredita que há um "lobby gay" funcionado dentro do Vaticano.
"Na cúria há pessoas santas. Mas também uma corrente de corrupção. O "lobby gay' que é mencionado, de fato existe, e precisamos tomar uma providência."

O comentário foi feito durante um encontro com a Confederação de Religiosos da América Latina e Caribe.
Um comentário como esse confunde e é um pouco irresponsável. Rocco Palmo, autor do blog http://whispersintheloggia.blogspot.com.br/
disse para a CNN: "Não temos explicação do que seja esse esse 'lobby gay'".

Justamente porque não se sabe o que o termo significa e porque o Papa não elaborou mais sua afirmação, ele acabou abrindo espaço para a especulação de todo tipo de intrigas.

É claro que deve haver gays e lésbicas trabalhando no Vaticano, da mesma forma que há em todos os níveis da Igreja e em todos os segmentos da sociedade. Essas pessoas estão planejando uma forma de prejudicar o Vaticano? Isso é trama dos livros do Dan Brown. Há gays no Vaticano que talvez não tenham as melhores motivações para estar na Igreja? Certamente, da mesma forma que há heterossexuais na mesma condição. Todos somos humanos: gays e heterossexuais.

Podemos aprender algumas lições com o comentário do Papa:

1) Rumores como esse não teriam nenhum efeito se os líderes do Vaticano tivessem uma visão mais aberta em relação à homossexualidade.
Enquanto os líderes da igreja continuarem a negar à população LGBT a sua dignidade e igualdade, eles vão continuar pintando os homossexuais como o bicho-papão que vive nas trevas. O fato de que em um documento de 2005 o Vaticano desencorajou que gays fossem ordenados garantiu que gays que queriam ser ordenados tivessem que negar sua sexualidade com prejuízo para sua personalidade.

2) O Papa precisa se informar melhor sobre a homossexualidade e a vida real de gays e lésbicas. Imaginemos que de fato exista um grupo gay no Vaticano que tenha formado um "lobby" para avançar uma agenda. Não há outros "lobbies" no Vaticano? Claro que há. Então porque o Papa Francisco afirma que esse "lobby gay" é uma "corrente de corrupção"? Uma afirmação como essa revela uma atitude homofóbica que não cabe a um líder mundial, menos ainda a um líder religioso.

3) Papa Francisco tem cativado o mundo falando de forma franca e improvisada, mas esse exemplo mostra o perigo desse estilo. O fato de ele ter feito uma alusão a esse grupo sem fornecer detalhes ou evidência é algo muito prejudicial. Isso permite especulações e pior ainda a vilificação de gays e lésbicas. Faz as pessoas crerem que os gays são pessoas enganadoras, de duas-caras, enfim, todo tipo de estereótipo negativo. O poder e a atenção de cada declaração do Papa determina que ele seja cuidadoso para não espalhar algo que não é verdadeiro e é prejudicial.

4) Finalmente, este incidente nos lembra que a Igreja Católica precisa de um diálogo amplo e aberto sobre a população LGBT. Enquanto os nossos líderes continuarem a manter as cortinas fechadas em relação às questões LGBT, eles vão continuar a prejudicar não só a população LGBT, mas também a igreja como um todo, por sua ignorância em relação a uma importante parte da natureza humana.


–Francis DeBernardo, New Ways Ministry

Tradução e adaptação: Hugo Nogueira

Fonte

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