domingo, 19 de maio de 2013

Novas Situações Familiares



Texto de Fernando Palhano sobre a posição mais recente da Igreja sobre o casamento gay.

"Sobre as famílias gays e a Igreja
'[...] mas nunca serão família, como querem
pois isso é demais [...]'
Seremos, sim. Já somos, aliás. Há muitíssimo tempo, casais gays já se organizam em núcleos familiares, ainda que sem o resguardo estatal. Isso mudou há pouco mais de 2 anos, quando o STF equiparou as uniões estáveis homoafetivas às heteroafetivas. Para o Ministro Carlos Ayres Brito, cujo entendimento prevaleceu em julgamento, deveria ser excluído do Código Civil qualquer 'significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de família. Asseverou que esse reconhecimento deveria ser feito segundo as mesmas regras e com idênticas conseqüências da união estável heteroafetiva'.
Mesmas regras e idênticas consequências. Isso quer dizer que o Estado deve, inclusive, facilitar a conversão dessas uniões estáveis em casamento. Além disso, 13 unidades federativas já têm normas e orientações para que os casais gays, que assim o desejarem, possam realizar seus casamentos sem ter realizado contrato de união estável previamente. Goste-se ou não, portanto, para o Estado brasileiro, casais gays podem formar família.
Mas a Igreja é contra. Para a Igreja, família é a união de um homem e uma mulher para gerar descendente, porque Deus disse ‘crescei e multiplicai’, dirão alguns. Ora, esse argumento é de um simplismo chega a ser doloroso. De cara, já se vê que ele é problemático porque exclui muita gente que, inclusive, é aceita sem ressalva dentro da Igreja. O que dizer, por exemplo, dos casais heterossexuais, que celebraram o sacramento do matrimônio [sacramento do matrimônio, aliás, DISPENSA TOTALMENTE A PRESENÇA DA IGREJA enquanto celebrante. É o único que é celebrado EXCLUSIVAMENTE pelos noivos e não pelo sacerdote. O que faz com que certas ideias passem pela minha cabeça, mas elas ficarão pra depois], mas resolvem não ter filhos? E o casal heterossexual, igualmente casados na presença da Igreja, cujo noivo é estéril? Esses casais não constituem família, é isso? Sabemos muito bem que não é assim.
E vejam que até mesmo dentro da mais alta hierarquia da Igreja é possível encontrar opiniões mais tolerantes que o ‘nunca serão família como querem’. Vejamos, por exemplo, o que disse o Cardeal Jorge Bergoglio, atual papa Francisco, em um livro publicado em 2010: ‘Nossa opinião sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo não tem base religiosa, e sim antropológica’. Não tem base religiosa, perceberam? Não adianta dizer que ‘se Deus quisesse diferente, teria feito diferente’, porque o veto ao casamento gay não tem nada de religioso. É claro que já tem gente dizendo que o papa não é legítimo por ser, aparentemente, adepto da pobreza, imagine se ele vier a público defender a união civil dos gays, como - diz-se - tentou fazer na Argentina uns anos atrás. Acusá-lo de ilegítimo vai ser pouco. O que eu considero um risco muito grande para o futuro da Igreja, mas, enquanto a Guarda Suíça fizer a proteção dele, diria que os católicos precisam levar em consideração o que fala Sua Santidade. Para quem quiser baixar o livro ‘Sobre el ciel y la tierra’, onde Bergoglio fala sobre esse e outros temas, vai o link:http://bajarlibros.net/book/sobre-el-cielo-y-la-tierra/
E a Igreja no Brasil? O que fala sobre isso? A CNBB, em sua 51ª Assembleia Geral, publicou um documento que ainda não está em sua versão finalizada, mas que já diz o seguinte: 
"Em nossas paróquias participam pessoas unidas sem o vínculo sacramental, outras estão numa segunda união, e há aquelas que vivem sozinhas sustentando os filhos. Outras configurações também aparecem, como avós que criam netos ou tios que sustentam sobrinhos. Crianças são adotadas por pessoas solteiras ou por pessoas do mesmo sexo que vivem em união estável.
A Igreja, família de Cristo, precisa acolher com amor todos os seus filhos. Sem esquecer os ensinamentos cristãos sobre a família, é preciso usar de misericórdia. É hora de recordar que o Senhor não abandona ninguém, e que também a Igreja quer ser solidária nas dificuldades da família. Muitos se afastaram e continuam se afastando de nossas comunidades porque se sentiram rejeitados, porque a primeira orientação que receberam fundamentava-se em proibições e não em uma proposta de viver a fé em meio à dificuldade. Na renovação paroquial, a questão familiar exige conversão pastoral para não perder nada do que a Igreja ensina e, igualmente, não deixar de atender, pastoralmente, as novas situações familiares."
Chama atenção a parte em que os bispos falam que muitos se afastaram por causa da rejeição sentida pelas proibições e não pela proposta de viver a fé em meio às dificuldades. Mas chama ainda mais atenção que a Igreja no Brasil chama a união de crianças adotadas por pessoas do mesmo sexo que vivem em união estável de NOVAS SITUAÇÕES FAMILIARES. É impressão minha ou isso é chamar casais gays de Família?
Eu ainda hei de ver muita coisa, senhoras e senhores. Estou certo disso. E quero muito ver que os meus irmãos católicos não perderão o bonde da história. Não ficarão na contramão da Igreja numa pretensa defesa da Igreja. Vejamos."

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