quinta-feira, 10 de maio de 2012

A crise do cristão

Foto: Iain Blake

... [P]ara que nos espiritualizemos, precisamos aprender a deixar para trás nossa própria identidade religiosa oficial, ou seja, deixar para trás o fariseu que se esconde em todos nós, porque, como Jesus nos disse, temos que deixar para trás toda a nossa identidade. Para que possamos nos tornar um com nós mesmos, com Deus, precisamos renunciar e transcender a todas as imagens de nós mesmos, todas elas originadas na mente febril do ego, para que nos tornemos verdadeiramente humanos, verdadeiramente reais, verdadeiramente humildes.

Nossas imagens de Deus, da mesma forma, deverão cair. Nós não podemos ser idólatras. Curiosamente, o que descobrimos é que elas caem, assim como caem as imagens de nossa identidade, o que sugere aquilo que nós já havíamos adivinhado, que nossas imagens de Deus são na verdade imagens de nós mesmos. Neste maravilhoso processo de entrada para toda a luz da Realidade, de afastamento da ilusão, um enorme silêncio emerge a partir do centro. Nos sentimos engolfados pelo eterno silêncio de Deus. Não estamos mais falando com Deus, ou pior, falando com nós mesmos. Nós estamos aprendendo a ser, a ser com Deus, a ser em Deus. [...]

Na jornada spiritual, aquietar-se consome mais energia do que correr... A maioria das pessoas gasta tantas das suas horas de vigília correndo de uma coisa para outra, que acaba por temer a quietude e o silêncio. Podemos ser acometidos por um certo pânico existencial, quando encaramos a quietude pela primeira vez, quando pela primeira vez entramos nesse estado de puro ser. Todavia, uma vez que possamos reunir a coragem para encarar este silêncio, adentramos a paz que está além de toda compreensão.

Sem dúvida, será mais fácil aprender isso em uma sociedade equilibrada e estável. Em um mundo turbulento e confuso, há muito mais vozes mais enganadoras, tantos apelos à nossa atenção. No entanto, a visão cristã é intransigente em sua sanidade, sua rejeição ao extremismo, no convite que faz a cada um de nós no sentido de termos a coragem para nos tornarmos nós mesmos, e não apenas reagirmos a alguma imagem de nós mesmos que nos seja imposta de fora. [...]

Em nossa experiência da meditação, o que cada um de nós deve aprender é que a energia para a peregrinação, de fato, está presente de modo inexaurível. Precisamos apenas de um passo de fé, para que possamos aprender isso a partir de nossa própria experiência. [E] aquilo que é importante lembrar, é que um passo real, ainda que vacilante, tem mais valor do que qualquer número de viagens vividas na imaginação.

- John Main, OSB
John Main OSB, THE PRESENT CHRIST (New York: Crossroad, 1991), pgs. 74-76.
Fonte: Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil

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