sábado, 14 de abril de 2012

Percurso para a fé

"A incredulidade de São Tomé", Caravaggio, 1601

Estando ausente Tomé os discípulos de Jesus tiveram uma experiência inaudita. Quanto O vêm chegar, comunicam-lhe cheios de alegria: "Vimos o Senhor". Tomé escuta-os com ceticismo. Por que irá acreditar em algo tão absurdo? Como podem dizer que viram Jesus cheio de vida, se morreu crucificado? Em todo o caso, será outro.

Os discípulos dizem-lhe lhes mostrou as feridas das Suas mãos e das Suas costas. Tomé não pode aceitar o testemunho de ninguém. Necessita comprova-lo pessoalmente: "Se não vejo nas Suas mãos o sinal dos Seus pregos... e não coloco a mão no Seu costado, não o creio". Só acreditará na sua própria experiência.

Este discípulo que se resiste a acreditar de forma ingénua, vai ensinar-nos o percurso que temos de fazer para chegar à fé em Cristo ressuscitado os que nem sequer vimos o rosto de Jesus, nem escutamos as Suas palavras, nem sentimos os Seus abraços.

Aos oito dias, apresenta-se de novo Jesus aos Seus discípulos. Imediatamente, se dirige a Tomé. Não critica a sua ideia. As suas dúvidas não têm nada de ilegítimo ou escandaloso. A sua resistência em acreditar revela a sua honestidade. Jesus entende-o e vem ao seu encontro mostrando-lhe as Suas feridas.

Jesus oferece-se para satisfazer as suas exigências: "Trás o teu dedo, aqui tens as minhas mãos. Trás a tua mão, aqui tens o meu costado". Essas feridas, mais do que "provas" para verificar algo, não serão "sinais" do Seu amor entregue até há morte? Por isso, Jesus convida-o a aprofundar para lá das suas dúvidas: "Não sejas incrédulo, mas sim crente".

Tomé renuncia a verificar. Já não sente necessidade de provas. Experimenta a presença do Mestre que o ama, o atrai e o convida a confiar. Tomé, o discípulo que fez percurso mais longo e laborioso que ninguém até encontrar-se com Jesus, chega mais longe que ninguém na profundidade da sua fé: "Senhor meu e Deus meu". Ninguém se confessou assim a Jesus.

Não temos de nos assustar ao sentir que brotam de nós dúvidas e interrogações. As dúvidas, vividas de forma sã, salvam-nos de uma fé superficial que se contenta com repetir fórmulas, sem acreditar em confiança em amor. As dúvidas estimulam-nos a ir até ao final na nossa confiança no Mistério de Deus encarnado em Jesus.

A fé cristã cresce em nós quando nos sentimos amados e atraídos por esse Deus cujo Rosto podemos vislumbrar no relato que os evangelhos nos fazem de Jesus. Então, a Sua chamada a confiar tem em nós mais força que as nossas próprias dúvidas. "Ditosos os que creem sem ter visto".

- José Antonio Pagola
Reproduzido via Amai-vos, com grifos nossos.

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