quinta-feira, 26 de abril de 2012

Deus é gay

Foto daqui

Enquanto um sacerdote anglicano mencionava, em artigo publicado sexta-feira passada no jornal inglês The Guardian, a possibilidade de Jesus ter sido gay - e, mais importante, enfatizava que, gay ou não, isso não faria diferença nenhuma (leia aqui) - uma pichação causava comoção, em Santa Helena, interior do Paraná.

Foram três frases: “Deus é Gay”, “Pequenas Igrejas, Grandes Negócios” e “Fuck the religion”. Os autores foram detidos e o assunto, tratado como um caso de intolerância religiosa. O ato de vandalismo é inaceitável, definitivamente. Porém, chamou-nos muito a atenção o escândalo causado, quase mais que pelo ato em si, pelo conteúdo das frases - sobretudo da primeira. Aliás, não foi incomum que as notas a respeito, sobretudo em veículos religiosos, tendessem a deixar as duas últimas um pouco de lado e dar destaque apenas à primeira. Mas por que dizer que "Deus é gay" chama tanto a atenção?

Ora, "as duas últimas frases são claramente agressivas, independente de você acreditar ou não em alguma religião ou ter suspeitas que certas igrejas são corruptas", comentou o jornalista Vitor Angelo, do Blogay, na Folha de S. Paulo, "mas 'Deus é gay' só é ofensiva de um certo ponto de vista cultural: a que considera ser gay algo ofensivo e/ou a que não crê que Deus criou todas as coisas."

Muito bem observado. Talvez tenha sido justamente esse ponto de vista cultural, aliás, o maior responsável por toda a polêmica em torno do cartaz da Parada LGBT de Maringá (no mesmo estado do Paraná) e a catedral na semana passada (saiba mais aqui). Afinal, se a construção, além de símbolo religioso, é também o símbolo maior da cidade, usado em tantos eventos e com tantos propósitos diferentes, por que a mera associação com um evento gay seria, por si só, ofensiva de algum modo? :-)

Porém, para além da intenção dos autores da pichação de ofender, será mesmo que dizer que alguém é gay é, em si, ofensivo? E será que associar Deus e homossexualidade é necessariamente ofensivo?

Vitor Angelo faz um comentário muito pertinente:
Muitos dizem que Deus é mais, é tudo, é amor ou como São Tomás de Aquino disse em sua “Suma Teológica”: “Deus est in omnibus rebus”, isto é, Deus está em todas as coisas existentes. 
“De duas maneiras se diz que Deus está em uma coisa: Primeiro, como causa eficiente, e nesse sentido ele está em tudo que criou. Segundo, como objeto de uma operação que está naquele que opera, o que é próprio das operações da alma, em que o objeto conhecido está no sujeito que o conhece, e o objeto desejado naquele que o deseja. Por esta segunda modalidade, Deus está de modo especial na criatura racional, que O conhece e que O ama, em ato ou por habitus”, escreveu o filósofo cristão. 
Ora, se os gays fazem parte do mundo criado por Deus, para aqueles que acreditam que Deus criou tudo no mundo, como no caso da Igreja Católica, ela não pode se dizer ofendida, pois se em tudo que Deus criou, ele lá está, o mesmo deve ocorrer com os homossexuais, pois – segundo as crenças da própria igreja - Deus criou tudo que existe. 
Em suma: Deus também é gay.

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