terça-feira, 13 de março de 2012

O único tempo que temos é agora

Escultura: Nancy Fouts

Prestar atenção porquê? Porque amiúde andamos distraídos. Ou, pior, olhamos indiferentes, sem ver. Ou pior ainda: olhamos invejosos, com aquele olhar vesgo que mata e petrifica. A atenção e o espanto perante a natureza, há muito tempo que ciência moderna os matou. Prestar atenção, observar o mundo como quem o vê pela primeira vez, em silêncio e em jejum, como que saído das mãos de Deus, é cultivar um sadio e franciscano reencantamento do mundo. (...)

Prestar atenção é também “ler com verdade dentro de si mesmo”, descobrir-se antecedido numa relação de doação de próprio ser. E a essência do ser é comunhão, afirmava o trapista Thomas Merton. (...)

Para a experiência cristã, a hora que vai chegar é sempre “agora”: “Mas vai chegar a hora, e é agora…” (Jo 4, 23: Sed venit hora, et nunc est…). É “agora” para a Samaritana de Sicar, junto ao poço de Jacob, e é igualmente “agora” para o Samaritano que não passou adiante e foi o próximo do homem que descia de Jerusalém para Jericó, e é sempre “agora” para cada um de nós. O único tempo que temos é agora. Entre o já e o ainda-não pascais, a Quaresma é também, agora, o pretexto litúrgico e pastoral para todos os dias prestarmos “atenção uns aos outros” e nos “estimularmos ao amor e às boas obras”.

- João Rosa
Professor da Universidade da Beira Interior
In Agência Ecclesia
Reproduzido via Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (Portugal)

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