terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O que importa é o que fazemos, não o que pensamos que fazemos

Fotomontagem: John Clang

"Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar?" (Mt 25:37-39)

No fim de contas,  o que importa é o que fazemos, não o que pensamos que fazemos. Muitas pessoas religiosas acham que é seu dever defender a Deus dos homens ímpios, condenando ou matando porque eles sabem melhor quem é Deus. E se Deus estiver escondido no outro? Se o nome de Deus for impronunciável, imerso em seu próprio silêncio, e confundido com os nossos nomes humanos? Quando foi que te vimos...? Não disseste teu nome... Nós não te reconhecemos.

O nome é descoberto no outro porque Deus nunca é separado, a base do ser não é um ser que possa ser rotulado.

Somente entrando no silêncio podemos encontrar esse outro, pois silenciar é tirar o foco da atenção de nós mesmos e projetá-lo no desconhecido. Cristãos atarefados podem esquecer que alimentar o pobre, vestir o nu e acolher o estrangeiro é um trabalho silencioso se nossa atenção estiver verdadeiramente voltada para aqueles a quem servimos, não para nós mesmos ou para a instituição por trás de nós. No silêncio deste amor, o "prestador do serviço" e o "usuário do serviço" revelam Deus um para o outro. E, assim fazendo, esses rótulos frios se desvanecem.

Somente encontrando o outro podemos encontrar a nós mesmos.

O outro pode ser ameaçador. Cor, comida, língua, roupas ou costumes diferentes. Por outro lado, se somos atraídos pelo outro, podemos ter medo de cair na sua alteridade e ser absorvidos – ou simplesmente rejeitados.

Não há dor pior do que o exílio emocional da rejeição. Não há maior alegria do que quando o outro sorri de volta, do fundo de seu coração, te reconhece e procura. Deus não é uma alternativa para o risco e a dor do relacionamento humano. Ele é o outro tão íntimo, o terreno comum onde nos encontramos e aprendemos, dolorosamente, a amar uns aos outros.

"Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes."

- Laurence Freeman OSB
Reproduzido do site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil

4 comentários:

Unknown disse...

Eu acho que o texto bíblico deixa claro q ninguém pode ter certeza de... salvação. Pode ser q, lá na hora, Deus diga um "nunca te conheci." O texto do blog é bacana, mas acho q o texto bíblico é bem mais duro doq o escritor Lawrence entende.

Equipe Diversidade Católica disse...

Querido Fabrício,

É preciso sempre ler cada texto das Escrituras à luz da Boa Nova de Cristo, que é a mensagem do amor irrestrito e incondicional do Pai por cada um de seus filhos. Nessa perspectiva, é o Homem que, em seu livre-arbítrio, opta por afastar-se de junto desse Pai, como na parábola do "Filho Pródigo" narrada por Lucas. Como nessa mesma parábola, porém, o Pai está sempre pronto a receber-nos, de braços abertos.

Quando, nesse trecho, de Mateus, Deus fala "nunca conheci vocês", é um alerta para aqueles que - como o irmão mais velho da parábola acima citada - acreditam que basta se dizer seguidor de Cristo e seguir meia dúzia de fórmulas de correção moral para assegurar a salvação.

A salvação não se dá num futuro distante e pontual, num suposto Juízo Final, mas aqui e agora, a cada instante em que nos abrimos para o Amor incondicional do Pai e nos permitimos viver plenamente esse Amor, que se concretiza na abertura, no encontro e no serviço aos irmãos de carne e osso que estão ao meu lado - não em curvar-se perante um Deus imaterial e distante.

Nosso fraterno abraço!

:-)

Unknown disse...

Eu entendi o texto, mas, sei lá...

Jesus mesmo disse sobre "o verme q nunca morre". N sou cristão, mas acho q sou bem literalista na forma q leio a Bíblia. Acho muito assustadora a idéia do inferno de fogo para não-salvos, pq uma punição eterna excede infinitamente o valor da culpa do pecado, q foi cometida durante um tempo. Enfim, n sei.
Alguns dizem q o o sacrifício de Jesus foi suficiente para Deus fazer as pazes com a humanidade, toda ela. Outros dizem q o inferno n é eterno. N sou teólogo, apenas leio um Jesus falando de uma punição eterna e de classes de pessoas q "ficarão de fora" e q serão muitos, muitos, muitos.

Mas concordo com o texto, sim. Aliás, belo trabalho o de vcs.

Equipe Diversidade Católica disse...

Puxa, Fabrício, muito obrigado pelo seu apoio. É sempre bom ter irmãos ao nosso lado. ;-)

Sobre a leitura literalista da Bíblia, Fabrício, em geral não produz bons frutos, nem leva a boa coisa - taí os fundamentalistas religiosos que não nos deixam mentir, né? É muito importante ter sempre cada trecho em seu contexto, para entender do que se está falando, e, como dissemos, sobretudo não perder de vista, mesmo nos trechos mais duros, que a mensagem mais importante - e por isso chama-se Boa Nova - é a permanente abertura e espera desse Pai Amoroso para a reconciliação.

Em geral, as palavras mais duras de Cristo eram dirigidas justamente aos "doutores da Lei", aos que se julgavam paladinos da moral e donos de Deus, e usavam seu poder para excluir, oprimir, rebaixar. Mesmo aí, porém, partindo-se da compreensão de que a mensagem geral é de amor, entende-se de que Cristo veio para todos - "Eis que estou à porta e bato"... cabe a cada um abrir ou não. Em seu amor supremo, ele nos deixa livres para escolher. E nos espera. :-)

Nossa primeira tendência é quase sempre entender o texto em termos de exclusões e inclusões, o lado certo e o lado errado, porque é mais cômodo contar com fórmulas para garantir a salvação, de uma maneira geral. É do humano buscar identificar-se com os "moralmente justos" e olhar com superioridade para "os outros", "os errados", "o resto". Todos fazemos isso em algum momento, e ele adverte contra isso o tempo inteiro... Mas a loucura de Cristo é que a justiça de Deus que ele anuncia subverte completamente essa lógica: ele veio salvar a todos, sem exceção...

Sobre o "sacrifício" de Cristo... Fala-se muito nessa ideia de que o Pai teria mandado seu filho inocente para lavar nossos pecados com seu sangue. Como chamar isso de "amor" (um "amor" que exige sacrifício?!), não é? Cada vez mais se abandona essa noção de sacrifício e entende-se que a morte de Cristo na verdade foi fruto da nossa escolha, e Ele, fiel à sua mensagem de que Deus é amor e serviço a nós, respeitou nossa decisão e levou sua missão até o fim. Mas a morte não teve a palavra final. A ressurreição marca a renovação permanente da vida, a permanente criação, e nos assegura que, a cada vez que caímos, podemos levantar. A cada vez que morrermos, poderemos recomeçar. É louco - mas é um Deus louco.

E, cá, entre nós, muita bobagem se fala e faz em nome dele, Fabrício... Sinceramente? Cristão ou não, crente, ateu ou seja o que for, escute o seu coração, seja o mais fiel que puder aos seus valores e confie em que a vida conspira sempre a seu favor, mesmo quando menos parecer. A ideia é mais ou menos essa. ;-)

Um abraço carinhoso (e desculpe pela resposta longa demais!)

:-)

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