segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Chamados a um esforço escondido e solitário de recolhimento


«Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há de recompensar-te» (Mateus 6,6).

Como pessoas de oração, eis o nosso programa para a Quaresma: entrar neste lugar secreto, oculto aos homens, que só o Pai vê. Somos chamados a um esforço de recolhimento e aprofundamento. Um esforço escondido e solitário que ninguém pode fazer por nós. É preciso afastarmo-nos de todas as nossas pequenas preocupações e dependências do amor-próprio; encontrar tempo para entrar nas profundezas do coração, num esforço de abertura e lucidez, e aí rezar ao nosso Pai.

É uma tarefa que exige perseverança e coragem. Porque é preciso aceitar ser o que somos em toda a nossa pobreza. É preciso enfrentar no silêncio as nossas dores secretas de que tentamos fugir pelas nossas atividades e tagarelices. É preciso suportar a obscuridade da fé pois esse lugar secreto também está oculto para nós, que não vemos o Pai. É preciso que nos apoiemos sobre a Palavra de Cristo: «O vosso Pai sabe do que precisais antes que vós lhe pedis». O meu Pai sabe! Que paz encontramos na envolvência do seu amor que abraçamos no segredo, na escuridão, por vezes no sofrimento. Ele sabe, Ele compreende.

Tentemos deixar brotar em nós a oração de Cristo, a oração do Filho. A nossa oração não é uma questão de técnica, truques, emoções subjetivas, mesmo que sublimes, nem de conhecimentos, mesmo que profundos. Ela é algo de infinitamente maior que nós, excede por todos os lados as capacidades do nosso coração. Ela é a oração de Cristo em nós. Uma oração que tem a sua fonte no amor eterno do Filho pelo Pai, que é este amor voltado para o Pai, que dEle recebe tudo, a Ele dando tudo num dom de si perfeito. Uma oração-amor que se exprime na linguagem humana do “Abbá”, paizinho, sobre as lágrimas de Cristo, nas suas noites de contemplação solitária na montanha, em toda a sua vida, sobretudo na sua morte «por nós» no madeiro da cruz. Oração-amor que abraça todos os homens de todos os tempos. Que esta oração-amor que transcende o tempo e o espaço habite em nós, fazendo dos momentos transitórios da nossa existência momentos, de alguma forma, eternos.

A carta de São Paulo aos Filipenses (3, 10-11) resume a essência da nossa Quaresma: «Assim posso conhecê-lo a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformando-me com Ele na morte, para ver se atinjo a ressurreição de entre os mortos».

Paulo só persegue um objetivo: «Esquecendo-me daquilo que está para trás e lançando-me para o que vem à frente, corro em direção à meta, para o prémio a que Deus, lá do alto, nos chama em Cristo Jesus» (Filipenses 3, 13-14).

A nossa preparação para a Páscoa deve ser motivada por impulso semelhante.

- Um monge Cartuxo
Reproduzido do site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (Portugal)

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