sábado, 11 de fevereiro de 2012

Amigo dos excluídos


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 1, 40-45, que corresponde ao 6º Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Eis o texto, aqui reproduzido via IHU, com grifos do autor.


Jesus era muito sensível ao sofrimento de quem encontrava no Seu caminho, marginalizados pela sociedade, desprezados pela religião ou rejeitados pelos setores que se consideravam superiores moral ou religiosamente.

É algo que Lhe sai de dentro. Sabe que Deus não discrimina ninguém. Não rejeita nem excomunga. Não é só dos bons. A todos acolhe e bendiz. Jesus tinha o hábito de levantar-se de madrugada para orar. Em certa ocasião revela como contempla o amanhecer: "Deus faz sair o Seu sol sobre bons e maus". Assim é Ele.

Por isso, por vezes, reclama com força que cessem todas as condenações: "Não julgueis e não sereis julgados". Outras, narra pequenas parábolas para pedir que ninguém se dedique a "separar o trigo e o joio" como se fosse o juiz supremo de todos.

Mas o mais admirável é a Sua atuação. O rasgo mais original e provocativo de Jesus foi o Seu hábito de comer com pecadores, prostitutas e gente indesejável. O fato é insólito. Nunca se tinha visto, em Israel, alguém com fama de "homem de Deus" comendo e bebendo animadamente com pecadores.

Os dirigentes religiosos mais respeitáveis não o puderam suportar. A sua reação foi agressiva: "Aí tendes a um comilão e bêbado, amigo de pecadores". Jesus não se defendeu. Era certo. No mais íntimo do Seu ser sentia um respeito grande e uma amizade comovedora para com os rejeitados da sociedade ou da religião.

Marcos recolhe no seu relato a cura de um leproso para destacar essa predileção de Jesus pelos excluídos. Jesus atravessa uma região solitária. De repente aproxima-se um leproso. Não vem acompanhado por ninguém. Vive na solidão. Leva na sua pele a marca da sua exclusão. As leis condenam-no a viver afastado de todos. É um ser impuro.

De joelhos, o leproso faz a Jesus uma súplica humilde. Sente-se sujo. Não lhe fala de doenças. Só quer ver-se limpo de todo estigma: «Se queres, podes limpar-me». Jesus comove-se ao ver a Seus pés aquele ser humano desfigurado pela doença e o abandono de todos. Aquele homem representa a solidão e o desespero de tantos estigmatizados. Jesus «estende a Sua mão» procurando o contato com a sua pele, «toca-lhe» e diz-lhe: «Quero. Ficar limpo».

Sempre que discriminamos a partir da nossa suposta superioridade moral a diferentes grupos humanos (vagabundos, prostitutas, toxicómanos, HIV positivos, imigrantes, homossexuais...), ou os excluímos da convivência negando-lhes o nosso acolhimento, estamos a afastar-nos gravemente de Jesus.

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