terça-feira, 31 de janeiro de 2012

How to dismantle an atomic bomb

Foto daqui

"Não ligue pra essas caras tristes
Fingindo que a gente não existe"

Eu detesto Parada do Orgulho Gay*. Detesto da mesma forma que detesto o Carnaval, da mesma forma que detesto festas de largo, da mesma forma que detesto shows, principalmente os gratuitos, da mesma forma que detesto ajuntamentos de pessoas em geral onde há muito barulho, muita bebida e muita bagunça. Detesto. E quando eu digo "detesto" quero dizer que detesto estar lá, detesto estar perto, detesto participar, não que detesto sua existência.

Tendo isso claro, devo dizer que eu apóio a Parada do Orgulho Gay. Enquanto olho para o Carnaval e outras festas com uma certa condescendência que beira o desprezo, olho para a Parada do Orgulho Gay como algo necessário.

Algumas pessoas acham que faz muito barulho e que acaba perdendo o foco que é lutar contra o preconceito. Eu concordo com essa interpretação, porém, acho importante esse barulho, inclusive acho bom essa perda do foco. A Parada virou uma espécie de carnaval onde as pessoas assumem sua orientação sexual, brincam e se divertem esfregando na cara da sociedade que elas existem - e não são poucas.

Algumas pessoas se preocupam com o barulho, mas esquecem que o barulho é uma das melhores formas de dar sinal de vida. Qual o maior sinal de que se tem criança saudável em uma casa? O barulho! Eles precisam fazer barulho porque estão crescendo, se desenvolvendo, aprendendo e se fortificando. Eu vejo a Parada do Orgulho Gay dessa forma. O movimento precisa fazer barulho para que as pessoas vejam que ele existe, precisam chamar atenção para que as pessoas se acostumem com a existência dele, precisam parar uma avenida para que as pessoas entendam que eles também têm direitos e merecem ser respeitados, eles precisam fazer barulho para que as pessoas que se identificam saibam onde eles estão.

Domingo fui ao shopping com minha filha, meu marido e meu cunhado. Sentamos para comer e a conversa veio para o nascimento do [blog] Minoria é a mãe. Falei sobre a intenção do blog, sobre as pessoas que fazem parte dele, falamos sobre preconceito e tolerância. Em determinado momento meu cunhado, que é artista plástico, comentou que "O problema dos gays é que eles são descarados e ficam dando em cima o tempo todo", falando sobre a experiência que ele tem trabalhando em uma escola onde um aluno gay dava em cima dele insistentemente. Meu marido retorquiu na hora "Você está falando de HOMEM, não é? Porque muito homem hétero fica dando em cima da mulher até chatear. Não é porque ele é gay, é porque homem é idiota e gosta de fazer isso."

Eu senti muito orgulho de meu marido nesse momento, porque ele não fez uma coisa que muito hétero faz, que é concluir que por gostar de outro homem o gay deixa de ser homem.

A afirmação de meu marido tem um certo fundo de verdade, porque nossa sociedade machista ensina os meninos que eles podem tudo e que se uma pessoa lhe diz não, basta insistir que ele receberá um sim, mas isso fica para outro momento. A questão que fica é o fato de que as pessoas acham que somente os gays dão em cima e insistem, e que todo gay é assim. E elas tiraram essa conclusão do simples fato de quase todo mundo falar a mesma coisa, sem nenhuma experiência com outras pessoas.

Como ele é meu cunhado resolvi ser boazinha e não ir chegando dando fatality, aproximei-me dele e falei calmamente "Você fala isso baseado na sua experiência com UM homossexual na escola que você trabalha, mas deixe eu te dizer uma coisa sem medo NENHUM de pecar: a maioria dos gays na escola que você trabalha não são assim, há muitos outros deles, e você não sabe quem são, porque eles nem assumiram sua sexualidade. Tenha CERTEZA que a maioria dos meninos gays da escola estão nessa hora em casa, na frente do computador, sem incomodar ninguém."

Meu marido acrescentou comentando sobre a experiência dele no trabalho onde tem alguns gays, e que os comportamentos deles são muito variados. As pessoas tendem a achar que gay é aquele homem afetado, que usa roupas extravagantes ou femininas, que a lésbica é aquela mulher que se veste de homem e engrossa a fala (alguns também pensam que essas são as feministas, mas isso também fica para outro momento). As pessoas só esquecem de pensar que gays são, como posso dizer?... Er... Pessoas. Gays são PESSOAS. E se tem uma coisa que todas as pessoas têm em comum é que elas são diferentes umas das outras. É bem pouco saudável achar que gays são todos iguais.

Por isso eu apóio a Parada do Orgulho Gay. Ela é uma forma das pessoas verem que no meio das drag queens, dos travestis, dos crossdressers, dos dançarinos com pouca roupa também há pessoas vestidas convencionalmente, dançando convencionalmente e que todos citados acima são gente, também convencionalmente. Será que eles terão que virar cachorrinhos para que as pessoas percebam que eles também têm direitos?

- Rebeca
Postado originalmente no blog Minoria é a Mãe

*Sou péssima com termos, e tenho o desleixo de ser desatualizada, então se o nome da parada tiver sido atualizado podem avisar.
O título do post é o nome de um disco do U2. A epígrafe é um trecho da música Bete Balanço, de Cazuza.

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