quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

''Eu ouvi os clamores da Natureza'', diz Deus

Foto: Nick Brandt

"Deus perdoa sempre; os homens, de vez em quando; mas a Natureza não perdoa nunca!", escreve Antonio Cechin, citando Santo Agostinho.

E Irmão Cechin pergunta: "Funcionará o Natal deste ano como o fecho de ouro de um ano em que vivemos melhor alfabetizados ecologicamente? Qual foi a eficiência da nossa Campanha da Fraternidade marca 2011 que termina?"

Segundo ele, "é uma avaliação a fazer sempre em final de ano, a fim de sermos dignos de qualquer Campanha que se preze. Inda mais a nossa devendo ser de fraternidade. Do contrário, teríamos que trocar o nome de Campanha por simples propaganda ou divulgação de um tema importante".

Antonio Cechin, irmão marista e miltante dos movimentos sociais, é autor do livro "Empoderamento Popular. Uma pedagogia de libertação". Porto Alegre: Estef, 2010.

Eis o artigo, aqui reproduzido via IHU.


Eis que o Natal vem aí!... E vem com força!... Com a força que Deus costuma dar ao evento que acontece ao longo de dois mil e onze anos, sem solução de continuidade.

Mas cadê os profetas?... Cadê os Isaías, Jeremias, Malaquias e tantos outros que anunciaram com grande antecedência, ao longo de todo o Antigo Testamento, a vinda do Deus Messias Salvador?...

Cadê hoje, o tonitruante João Batista, do Novo Testamento, Precursor que vinha logo aí, correndo na frente do cortejo real, gritando aos quatro ventos o nome do Justiceiro que, à semelhança de um foguista, estaria a caminho a fim de limpar a sua eira? Cortaria a árvore seca? Tocaria fogo em toda a planta que não desse frutos, a ponto de assustar a muitos que perguntavam: "E daí?... O que devemos fazer para escapar do flagelo iminente?" a que o Batista respondia: "Quem tem dois pães dê um a quem não tem; e quem tem duas túnicas faça o mesmo?"

Mas cadê mesmo os profetas de hoje? Aqueles que têm como Missão ler os sinais dos tempos para o povo, isto é, clarear os acontecimentos em sua significação mais profunda? Cadê os evangelizadores ou transmissores da Boa Nova?... Cadê os Catequistas da Libertação anunciando que o fim do cativeiro está a caminho, uma vez mais, por ocasião do Natal ano 2011, às portas?

Nos tempos que correm e que são os nossos, na falta de autênticos evangelizadores, o Deus-Amor, o Paizinho dos céus nos envia uma vez mais, o seu Filho muito amado. Em seu infinito amor O envia para um povo cada vez mais surdo e cego, sem olhos para ver e sem ouvidos para ouvir. Por isso mesmo, Ele já não fala mais do mesmo jeito que antigamente quando dizia "Eu ouvi os clamores do meu Povo". Em 2011, Ele fala com mais ênfase: "Meu Povo: Eu hoje estou ouvindo berros que são da Mãe Natureza!"

Não esqueçamos que o único Mestre Jesus de Nazaré, de uma feita, soltou a queixa: “se os profetas deixarem de gritar, as pedras falarão!” Pois não é que vivemos tempos de pedra? Já nos alertava o profeta da cidade de Hipona (norte da África) o bispo Agostinho. Ele vivia nos bons tempos chamados "dos Padres da Igreja", por terem sido fundadores de Comunidades ou Igrejas. Na qualidade de Bom Pastor, Agostinho dizia: "Deus perdoa sempre; os homens, de vez em quando; mas a Natureza não perdoa nunca!" É que, a respeito dos bons tempos de antigamente, aqueles de Agostinho, dos padres da Igreja, o escritor clássico português, padre Manuel Bernardes, contemporâneo do Concílio de Trento, em seu livro "A Nova Floresta" nos diz: "Antigamente os cálices eram de pau, mas os padres eram de ouro; hoje, os cálices são de ouro e os padres de pau!" Em tempos de pedra, não deveríamos preparar a chegança de Quem prometeu "trocar coração de pedra por coração de carne"?... Substituir ódios e guerras por amor e paz?...

Neste 2011 o Lite-motiv, isto é "o motivo condutor" da Igreja, no Brasil, é a Natureza. O lema que nos ilumina é a frase de São Paulo: "A Natureza geme em dores de parto enquanto espera a manifestação dos filhos de Deus".

Pois não é que domingo passado iniciou o ano litúrgico com o primeiro domingo do advento ou seja, a primeira das quatro semanas que preparam o Natal? Isso aqui em terra, porque da banda dos céus, o que nos veio, exatamente aqui, na região metropolitana, neste início de advento? Nada menos que um imenso toró, com uma ventania de velocidade superior a 100 quilômetros horários, destelhando centenas de casas, derrubando postes elétricos de cimento armado, pondo por terra árvores e muros, abalroando automóveis e provocando outros desastres similares. Até pouco tempo atrás, cataclismos desse tipo aconteciam como verdadeira raridade. Hoje desastres ditos naturais acontecem com sempre maior freqüência com nomes os mais diversos, tais como: tsunamis, tempestades, desmoronamentos, destelhamentos, demolições, vulcões, maremotos, e quejandos outros designativos.

É a Natureza saída das mãos de Deus que não suporta mais tanta agressão por parte dos "filhos de Deus" ingratos e que não tornam Deus manifesto de jeito nenhum. Ela, a Mãe Natureza não consegue mais suportar as agressões que recebe, de quem tem o dever de tratá-la com respeito e cuidados, como merece a obra de arte tecida pelo artista Criador.

Será que em algum lugar desta região metropolitana se estará lendo "o sinal dos tempos" tão claro como o berro que a natureza deu aqui, inteiramente perceptível para nossos olhos e nossos ouvidos, em nome do único Mestre Jesus de Nazaré?... Será que em alguma sala de aula de religião de alguma escola, ou em alguma catequese em âmbito paroquial, algum profeta, algum evangelista, algum catequista da libertação, ou em alguma homilia de missa dominical ter-se-á ligado o berro da natureza com o grande grito do Homem-Deus pregado no Calvário no instante da morte? Grito e berro naquele instante final de Vida do Mestre por excelência, se deram juntos, numa fusão homem-natureza. O primeiro, o Homem, fazendo parte integrante e inseparável da segunda, a Natureza.

Funcionará o Natal deste ano como o fecho de ouro de um ano em que vivemos melhor alfabetizados ecologicamente? Qual foi a eficiência da nossa Campanha da Fraternidade marca 2011 que termina? É uma avaliação a fazer sempre em final de ano, a fim de sermos dignos de qualquer Campanha que se preze. Inda mais a nossa devendo ser de fraternidade. Do contrário, teríamos que trocar o nome de Campanha por simples propaganda ou divulgação de um tema importante.

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