segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Existe um céu para Amy



Estava demorando.

Consegui passar pela enxurrada da morte da Amy Winehouse com alguma dignidade, apesar dos meus pontos em comum com a história e a personalidade dela. Por uma sorte do destino e muito trabalho interior, eu continuo caminhando neste mundo; ela ficou no tempo. Falar sobre compulsão num mundo compulsivo é chover no molhado. Todo mundo está mais do que careca de saber que excesso não dá boa coisa. Excesso de compras dá endividamento, excesso de chatice dá solidão, excesso de drogas dá overdose. A grande questão é frear a primeira pedra do “quem usa drogas sabe que vai morrer” ou do “só podia dar nisso mesmo”. Não é totalmente verdade e nem precisaria ser se os nossos tempos muito doidos não exigissem holocaustos humanos aos nossos deuses do excesso. A máquina de moer personalidades nunca esteve tão ligada e com as atenções tão voltadas a ela. A lista dos gênios que morrem aos 27 precisa ser atualizada com urgência porque as pessoas querem ter a segurança de que os maus vão mesmo ter um final trágico. Porque quem é mau precisa ir para o inferno num vôo sem escalas e sem banheiro.

Vou jogar uma bomba, agora: NÃO EXISTE INFERNO! Aquilo que chamamos de inferno, o lugar escaldante onde os julgados maus sofrerão a danação eterna é muito bonito na Divina Comédia de Dante mas não tem nada a ver nem com o Deus dos nossos pais – Aquele mesmo, que é puro Amor e Acolhimento – nem com o olhar assustado da pobre Amy Jade – aquela mesma, que virou Winehouse e não conseguiu sair mais dela. Condenar aquela história de solidão e sofrimento da garota inglesa “tagged” com a etiqueta PROBLEMA é tão eficaz quanto mandar uma ovelha para o supletivo. O que precisa ser feito mesmo é parar de sacrificar pessoas para fortalecer o pressuposto do “quem é mau vai pro inferno”. E a omissão talvez seja nosso pecado mais grave.

A Divindade que vive dentro de nós não deveria ser convidada a condenar maus e aplaudir bons – até porque a gente nem sabe quem é realmente bom e quem é realmente mau – mas a ser divina em sua essência e acolher, agregar, restaurar, AMAR.

Sinto pela garota inglesa que não encontrou a saída. Agradeço por ter tido a chance de continuar caminhando e olhar pra tragédia como um passado. Agora, é minha responsabilidade multiplicar o bem que um dia foi feito na minha vida.

Com amor,
Zu.

5 comentários:

Anônimo disse...

O Bem te ilumine e coduza, Zu!
Estamos juntos e somos muitos.
Fábio

Cláudio disse...

você não sabe nada sobre Amy. Tuas palavras só me fazem confirmar o quanto o cristianismo e os cristãos são de fato inúteis a qualquer experiência pessoal. Reinventam-se, assimilam modernidades, recriam dogmas, mas continuam sendo a mesma mixórdia de sempre, com toda sua arrogância julgadora e sua incapacidade de perceber o que constitui cada um dos sujeitos em seus desejos, prazeres e dignidade.

Rodolfo Viana disse...

Alow....Caro Cláudio...
Devagar com o andor que o Santo é Acricilico Decantado e Importado.

Acho mesmo que vc deveria reler o texto...pq, sem dúvida vc não entendeu o que ele quis dizer...Ou muito pior, o que ele poderia lhe fazer dizer...se vc permitisse.

Até porque, "são de fato inuteis a qualquer experiencia pessoal"...
Não sei se rio ou choro com seu axioma, pq se são inuteis a vc é um fato,mas pra vc, agora se é pessoal, bem, não tem muito o que explicar é pessoal, oras.

Zu. disse...

Oi, Claudio

Meu texto foi escrito exatamente para o não-julgamento e para que se reflita sobre a super exposição da miséria humana. Acredito que as pessoas mereçam ser felizes e não precisem servir de exemplo para se julgar o que é bom e o que é mau, o que, aliás, é a negativa chave do que escrevi.
Sobre a Amy, conheço o que o mundo conhece. Não fui amiga nem sou parente mas tive uma experiência similar, por isso, conheço a sensação de ser a festa caótica onde quer que se vá. Sei que a sensação não é boa e me compadeci pela figura da garota que não conseguiu mais sair do "you know that I'm no good".
Pra mim o Cristianismo é bom. Não posso dizer se ele é bom pra vc. Isso, só vc pode saber. Mas, dentro do Cristianismo-bom-pra-mim, posso te responder que respeito a sua opinião, apesar de não concordar com ela.

Paz e Bem! E um abraço também! ;)
Zu.

Arnaldo disse...

Brava, Zu!

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