terça-feira, 2 de agosto de 2011

Carta aberta ao Papa Bento XVI e aos Bispos da Austrália

Foto: Projeto Other People's Houses

"Agora é a hora para que os católicos comuns se pronunciem sobre as suas preocupações com a sua Igreja e para os seus pastores os ouçam". Assim afirma a Carta Aberta dirigida ao Papa Bento XVI e aos bispos católicos da Austrália, que publicamos abaixo.

O Catholics for Renewal [Católicos para a renovação], um grupo comunitário de base recém-formado que preparou a Carta Aberta, indica que, de acordo com o Direito Canônico, todos os fiéis de Cristo têm o direito e o dever de dar voz às suas preocupações pelo bem da Igreja.

O texto foi publicado no sítio Catholica, 08-07-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto, aqui reproduzida via IHU, com grifos nossos.


Eis a carta.

Caro Papa Bento XVI e Bispos da Austrália,

Nós, católicos/as abaixo-assinados da Austrália, escrevemos para vocês a respeito das nossas preocupações pela Igreja. Pedimos que vocês considerem estas questões durante a visita Ad Limina de 2011.

Como fiéis de Cristo, temos que nos pronunciar. De acordo com o Direito Canônico, temos um direito e um dever, de acordo com o nosso conhecimento, competência e posição, para manifestar aos nossos pastores nossos pontos de vista sobre questões que concernem ao bem da Igreja (C.212.2-3).

A Igreja já não inspira mais adequadamente muitas de nossas comunidades. Ela afastou muitos adultos que nasceram em famílias católicas, que frequentaram escolas católicas e que viviam uma vida sacramental. Ela se tornou desconectada e irrelevante para as vidas de muitos de nossos filhos.

Com menos padres, sua capacidade de providenciar a Eucaristia regular em nossas paróquias, especialmente nas zonas rurais, tornou-se cada vez mais limitada. Como instituição, ela ainda não encarna a visão do Concílio Vaticano II de uma Igreja verdadeiramente colegial, em que as decisões respeitam as culturas, comunidades e circunstâncias locais.

Ao contrário, ela se parece a uma instituição focada no centralismo, no legalismo e no controle, com poucas estruturas eficazes de escuta e de diálogo, e, muitas vezes, mais preocupada com a sua imagem e interesses institucionais do que com o espírito de Cristo.

Nossa Igreja tem sido contaminada pela injustiça e manchada por más decisões. Ainda nos recuperamos do escândalo dos abusos sexuais, em que a resposta inicial da Igreja foi manifestamente inadequada, e em que algumas autoridades, em suas tentativas de proteger a instituição, expuseram jovens inocentes a um grave dano.

Ficamos chocados com a falta do devido processo na forma como Dom Morris, um pastor dedicado, foi removido de sua diocese. Ficamos desanimados com a falta de consulta apropriada sobre as novas traduções ao inglês da nossa liturgia. Não podemos mais aceitar a atitude patriarcal para com as mulheres dentro da nossa Igreja e tememos que a insistência na afirmação da infalibilidade esteja sufocando a discussão sobre muitas questões importantes. Essas questões incluem alguns ensinamentos sobre a sexualidade humana, assim como sobre as novas formas de ministério para mulheres e homens casados; sendo que este último é uma anomalia para uma Igreja comprometida com a igualdade e que acolhe ministros casados de outras tradições cristãs. Essas preocupações minam a confiança e a confiança em vocês, nossos líderes.

Queremos e rezamos por uma Igreja renovada que siga a Cristo mais de perto em todos os sentidos. Precisamos de uma Igreja comprometida com a colegialidade e subsidiariedade autênticas. Buscamos uma Igreja aberta, transparente e responsável, que respeite o devido processo, rejeite toda forma de discriminação, ouça seu povo, promova a corresponsabilidade em todas as facetas da sua missão e do seu ministério, e seja compassiva até o fim.

Pedimos uma Igreja voltada para o exterior, totalmente comprometida com a justiça, a paz, o ecumenismo e o diálogo com outras fés, e que defenda de forma inequívoca os direitos dos oprimidos e dos desfavorecidos, enquanto se volta de forma prática para as suas necessidades.

Precisamos e queremos uma Igreja em que sejamos "todos um em Cristo, sem mais diferenças (...) entre homem e mulher"(Gálatas 3:28) e cujos líderes leiam bem os sinais dos tempos e os interpretem à luz do Evangelho.

Como um primeiro passo para a colegialidade e a subsidiariedade, pedimos que cada bispo diocesano convoque, para uma data próxima, um sínodo em sua diocese, nos termos do Direito Canônico (C.460-468), para discutir como a Igreja local pode ser uma testemunha mais autêntica no século XXI. Também pedimos que o Papa Bento permita um retorno a um processo mais responsável e consultivo para a nomeação de bispos, dando aos sacerdotes e ao povo uma voz real, como era a prática da Igreja primitiva. Isso poderia começar com a nomeação do próximo bispo de Toowoomba.

Para todos nós, Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Como Povo de Deus e seus irmãos e irmãs em Cristo, que, juntos, buscam o Reino de Deus, rezamos para que o Espírito guie a todos nós para cada vez mais perto de Jesus na crítica tarefa da renovação.

Católicos/as da Austrália

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