terça-feira, 12 de julho de 2011

Abandonar-se


Uma das coisas de mais difícil entendimento para os ocidentais é a de que a meditação nada tem a ver com procurar fazer com que alguma coisa aconteça. Todavia, todos nós estamos tão acostumados com a mentalidade da técnica e da produção que, inevitavelmente, pensamos primeiro que estamos tentando arquitetar um evento, um acontecimento. De acordo com nossa imaginação, ou predisposição, poderemos ter diferentes idéias do que viria a acontecer. Para alguns, trata-se de visões, vozes, ou lampejos de luz. Para outros, profundas reflexões e compreensão. Para outros ainda, um melhor controle sobre suas vidas e problemas do dia a dia. A primeira coisa que precisamos entender, no entanto, é que a meditação nada tem a ver com fazermos com que alguma coisa aconteça. O objetivo básico da meditação, muito ao contrário, é o de simplesmente aprendermos a passar a ser completamente conscientes do que é. O grande desafio da meditação é o de aprendermos diretamente da realidade que nos sustenta.

O primeiro passo nessa direção, e que somos convidados a dar, é o de entrarmos em contato com nosso próprio espírito. Talvez a maior tragédia de todas seja a de termos que completar nossa vida sem nunca termos entrado em pleno contato com nosso próprio espírito. Esse contato significa descobrir a harmonia de nosso ser, nosso potencial para o crescimento, nossa integralidade, tudo aquilo que o Novo Testamento, e o próprio Jesus, chamaram de “a plenitude da vida”.

É tão freqüente que vivamos nossa vida em cinco por cento de nosso pleno potencial. Mas, é claro, não há medida para nosso potencial; a tradição cristã nos diz que ele é infinito. Se apenas nos voltássemos do eu para o outro, nossa expansão de espírito se tornaria ilimitada. Isso muda tudo, isso é aquilo que o Novo Testamento chama de conversão. Somos convidados a abrir as algemas da limitação, para que sejamos libertos de dentro da prisão do ego que nos limita. A conversão é apenas a libertação e a expansão que surgem quando nos voltamos de nossos eus para o Deus infinito. Trata-se também de aprendermos a amar a Deus, assim como, ao nos voltarmos para Deus, aprendermos a amar uns aos outros. Ao amar, somos enriquecidos para além de qualquer medida. Aprendemos a viver a partir da infinita riqueza de Deus.

- John Main, OSB
In ESSENTIAL WRITINGS, Modern Spiritual Masters Series (Maryknoll, NY: Orbis, 2002), pg. 127.
Tradução de Roldano Giuntoli. Reproduzido via Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil. Grifos nossos.

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