quarta-feira, 1 de junho de 2011

No encontro com o outro, é o próprio Deus que tocamos

Foto: Paul Zizka

A Igreja Católica celebra hoje a festa da Visitação de Maria (Lc 1, 39-56), e em seu post de hoje nosso amigo Teleny nos propõe preciosas reflexões, das quais selecionamos uma para reproduzir aqui, com grifos nossos.

(...) Como a Providência Divina inseriu a Festa da Visitação de Maria na proximidade de Pentecostes e o próprio acontecimento revela coisas importantes sobre a ação do Espírito Santo, é justo que leiamos o texto do Evangelho (Lc 1, 39-56), também nessa perspectiva. O já mencionado fenômeno sobrenatural de Isabel ter a revelação da verdadeira identidade de sua jovem parenta, mostra a intervenção do Espírito Santo: "Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo" (v. 41). Podemos notar certa analogia entre este acontecimento e uma conversa de Jesus com os discípulos: "Jesus (...) perguntou aos discípulos: 'Quem é que as pessoas dizem ser o Filho do Homem?' (...) 'E vós, quem dizeis que eu sou?' Simão Pedro respondeu: 'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'. Jesus então declarou: 'Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu' (Mt 16, 13. 15-17).

Tanto Isabel quanto Pedro não descobriram a verdadeira identidade da pessoa na sua frente por conta própria. Foi lhes revelada. Essa verdade é muito importante também para nós, para admitirmos as nossas limitações humanas em questão de reconhecimento da real identidade de outras pessoas. Com outras palavras, é o Espírito Santo que abre nosso coração e nossos olhos para o mistério do ser humano, para que vejamos nele a criatura amada e adotada por Deus como filho ou filha. Desta maneira somos curados de todo tipo de preconceito.

Anselm Grün, alemão, monge beneditino, autor de vários livros sobre a espiritualidade, num belíssimo – como sempre – texto, ajuda-nos a compreender melhor esse aspecto da Visitação de Nossa Senhora. É o trecho do livro “Festas de Maria” (Editora Santuário, Aparecida – SP, 2009).

Maria transpõe uma alta montanha para chegar até Isabel. Entre nós e o outro frequentemente há montanhas de preconceitos e empecilhos, montanhas de pensamentos que nos impedem de chegar até o outro. (...) Precisamos transpor a montanha de nossos medos e bloqueios e os montes de nosso comodismo para chegar realmente ao outro. Quando tivermos saído de nós mesmos, então conseguiremos aproximar-nos do outro (...). Então encontramos no outro o mistério de Deus que supera sua inteligência. Agora reconhecemos ter encontrado a Mãe de Nosso Senhor. E desse encontro desperta em nós alguma coisa que ajuda a viver. O menino que está em nós pula; no outro, tocamos em nosso âmago. No encontro com o outro, encontramo-nos conosco mesmos, entramos em contato com a origem incorrupta e autêntica do nosso ser. Ao mesmo tempo, num encontro autêntico, abre-se para nós o mistério do outro. Percebemos quem ele é realmente, percebemos que nele a Mãe de Nosso Senhor vem a nós, que o mistério mais profundo do outro é o próprio Cristo. E assim, no encontro com o outro, tocamos no próprio Deus. O encontro autêntico faz os dois tocarem sempre num mistério que os ultrapassa: liberta densidade e presença, a ponto de o próprio Deus tornar-se experimentável. (p. 73-74)

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