terça-feira, 28 de junho de 2011

Em memória de Mim


A crise da missa é, provavelmente, o símbolo mais expressivo da crise que se está a viver no cristianismo atual. Cada vez aparece com mais evidência que o cumprimento fiel do ritual da eucaristia, tal como ficou configurado ao longo dos séculos, é insuficiente para alimentar o contato vital com Cristo de que necessita hoje a Igreja.

O afastamento silencioso de tantos cristãos que abandonam a missa dominical, a ausência generalizada dos jovens, incapazes de entender e gostar da celebração, as queixas e pedidos de quem continua a assistir com fidelidade exemplar, gritam-nos a todos que a Igreja necessita no centro mesmo das suas comunidades uma experiência sacramental muito mais viva e sentida.

No entanto, ninguém parece sentir-se responsável pelo que está a ocorrer. Somos vítimas da inércia, da covardia ou da preguiça. Um dia, quem sabe não longe, uma Igreja mais frágil e pobre, mas com mais capacidade de renovação, empreenderá a transformação do ritual da eucaristia, e a hierarquia assumirá a sua responsabilidade apostólica para tomar decisões que hoje não nos atrevemos nem a expor.

Entretanto não podemos permanecer passivos. Para que um dia se produza uma renovação litúrgica da Ceia do Senhor é necessário criar um novo clima nas comunidades cristãs. Temos de sentir de forma muito mais viva a necessidade de recordar Jesus e fazer da Sua memória o princípio de uma transformação profunda da nossa experiência religiosa.

A última Ceia é o gesto privilegiado em que Jesus, ante a proximidade da Sua morte, recapitula o que foi a Sua vida e o que vai a ser a Sua crucificação. Nessa Ceia concentra-se e revela-se de forma excepcional o conteúdo salvador de toda a Sua existência: o Seu amor ao Pai e a Sua compaixão para com os humanos, levado até ao extremo.

Por isso é tão importante uma celebração viva da eucaristia. Nela atualizamos a presença de Jesus no meio de nós. Reproduzir o que Ele viveu no término da Sua vida, plena e intensamente fiel ao projeto do Seu Pai é a experiência privilegiada que necessitamos para alimentar o nosso seguir a Jesus e o nosso trabalho para abrir caminhos ao Reino.

Temos de escutar com mais profundidade o mandato de Jesus: "Fazei isto em memória de Mim". No meio de dificuldades, obstáculos e resistências, temos de lutar contra o esquecimento. Necessitamos fazer memória de Jesus com mais verdade e autenticidade.

Necessitamos reavivar e renovar a celebração da eucaristia.

- José Antonio Pagola
Reproduzido via Amai-vos, com grifos nossos

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...