quarta-feira, 8 de junho de 2011

Elogio de uma Igreja imperfeita


Pequena confidência recebida de um padre com muitos anos de ministério nas costas: "Estou cansado de ir ao encontro das pessoas com tantas respostas já prontas. Quero dedicar mais tempo à escuta".

A nota é do teólogo italiano Christian Albini, publicada em seu blog Sperare per Tutti, 16-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto, publicada aqui via IHU, com grifos nossos.

Não é a Igreja dos documentos e das estratégias pastorais. Não é a dos "vocês devem" e a dos "vocês podem". É uma Igreja empastada de humanidade, que amadurece uma sabedoria humilde na escuta da vida e da Palavra de Deus.

Não faz proclamações, mas se faz sinal. Simplesmente depondo-se como presença discreta no limiar do outro, sem invadi-lo. Uma presença gratuita, porque não pede nada em troca; disponível, porque se deixa encontrar quando o outro tem necessidade; respeitosa, porque se propõe sem se impôr.

Conheci padres e leigos imóveis, fechados na couraça das suas certezas. Sou contra o clericalismo que eleva em pedestais as pessoas que vestem paramentos sagrados. Tenho outros conhecidos que se deixaram mudar a partir da imersão na humanidade, dia após dia, aprendendo a ler o evangelho dentro da vida.

Prefiro as pessoas imperfeitas, que erram, que são conscientes disso e admitem seus próprios limites. Concordo com o que o Pe. Luigi Pozzoli escreveu ao cardeal Tettamanzi, no seu ingresso em Milão, ele que havia sido seu companheiro de seminário. É um padre que tem esse estilo, e me parece que o arcebispo de Milão, em seus anos de episcopado, foi capaz de ir nessa direção:


Imaginando-me sempre como bispo (conceda-me essa fantasia, ingênua, como o senhor quiser, mas sem qualquer presunção), me preocuparia em transmitir uma palavra que restitua a confiança a tantas almas cansadas e desiludidas, porque não encontram nas nossas igrejas a oportunidade de cultivar uma fé livre, alegre, humanizadora, capaz de descerrar horizontes de grande, invencível esperança. [...]

É importante hoje apresentar a imagem de uma Igreja que tenha finalmente se libertado de tantos fardos do passado (ritualismos, juridicismos, medos, diplomacias excessivas, preocupações de tipo mundano...) e tenha se libertado, ao contrário, o espaço onde se possa entrar em uma comunhão amorosa com o universo, com a existência, com o mistério de Deus. Como 'epìskopos' (na Igreja primitiva, aquele que cuida da comunidade), não me preocuparei em buscar uma resposta para todos os problemas de ordem moral (o cristianismo não é primariamente uma moral), mas sim em ser testemunha de uma fé que tem uma conotação mística, isto é, que se alimenta do indizível estupor ao sentir-se amada por Deus, por pura graça, com uma ternura que precede qualquer mérito possível.

É um Deus, o de Jesus, que sempre se coloca do lado do homem, sobretudo do homem fraco que anseia por um possível resgate.

Falarei, por isso, frequentemente, da maravilhosa liberdade que se respira no Evangelho, do valor da pessoa que vem antes de todo princípio e de toda norma moral ("o sábado é para o homem, não o homem para o sábado"), da consciência madura como critério último de juízo no agir. Falarei sobretudo do amor fraterno como resposta generosa e alegre ao amor de Deus, amor que deve privilegiar os pequenos do Evangelho (os grandes, aqueles que contam, obtêm os privilégios sozinhos).

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