quinta-feira, 19 de maio de 2011

Uma revoltinha, pra chacoalhar o coração


Ilustração: J. Tenniel

Não tenho muita certeza, mas ando desconfiando que uma certa rabugisse jornalística toma conta de mim. Normalmente, quando vejo qualquer mídia se referindo ao comportamento gay, me sinto como o ET de Varginha assistindo o Arquivo X. Mas hoje, especificamente hoje, o Extra online me deu nos nervos com a seguinte manchete:

Crime no motel: Loura Fatal 
tinha namorada


Bom, não vamos entrar no mérito da questão do que a levou a matar alguém, porque isso, sinceramente, só ela que sabe. Também não está em discussão se ela é mais ou menos sã. O problema é ler, na chamada desse desastre jornalístico, que ela tinha namorada, como se isso fosse toda a explicação pra ela enforcar alguém num motel. Será o Benedito que nem depois de explorar o 17 de maio a torto e a direito, a imprensa continua achando e contribuindo para o estigma bolsonarizante de que toda lésbica é uma assassina violenta em potencial??? "Ah...tudo se explica, agora... Ela era sapatão!"

Passamos por um momento limite na sociedade exatamente por falta de limites. Não sou a favor de palmada em filho nem de censura de qualquer espécie à imprensa, mas precisa haver um cuidado editorial com esse tipo de chamada. Segundo o mesmo jornalista que escreveu a matéria, essa menina era conhecida pelos vizinhos e colegas pela falta de cuidado com que sua educação (no mais amplo sentido que o termo "educação" possa ter) era construída, vivia em uma família sem estrutura, na qual cada um tocava sua vida sem que o outro se metesse ou mesmo acompanhasse o que acontecia. Mais uma vez, vou puxar a reflexão para a família, que é nosso mote católico aqui: NÃO PODE SER ESSE TOTAL DESCASO, A BASE PARA O NOSSO FUTURO COMO SOCIEDADE. O conceito de família, antes de estar associado ao gênero dos cônjuges, precisa passar pelo amor e pelo cuidado. Precisa haver carinho e construção de cumplicidade e limites para que, dentro de um grupo familiar, um possa ser verdadeiramente o porto seguro do outro, para que haja confiança entre todos, para que todos se conheçam e os mais novos tenham base para construir um ambiente sadio para as próximas gerações que virão. O impressionante é que tudo isso independe completamente da orientação sexual de quem quer que seja; pais, mães, filhos ou mesmo pets!

Em vez de "Crime no motel: Loura fatal tinha namorada", o Extra poderia ter escrito "Crime no motel: Adolescente completamente perdida comete cagada ensaiada". Mas isso, provavelmente, atrairia menos publicidade para o jornal.

Com alguma indignação, mas ainda muito amor - porque até aqui nos ajudou (muito) o Senhor,
Zu.

2 comentários:

Equipe Diversidade Católica disse...

Em tempo: com a chamada "Garota que admitiu crime em motel diz à polícia que tinha caso com mulher", a matéria figura neste momento em 4º lugar na lista das mais lidas no G1. Qual a relevância desse fato? :-(

Zu. disse...

Exatamente o que eu escrevi no editorial: Porque condenar um sapatão é mais fácil que rever a educação e os rumos da sociedade.
Olhar pra própria feiúra dói.

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