sábado, 7 de maio de 2011

Deus em Lady Gaga: um hino aos marginalizados


As músicas de Lady Gaga são um hino para os marginalizados, na opinião de Helen Lee, especialista em teologia e comunicação da Fordham University, nos EUA.

O artigo foi publicado no sítio Busted Halo, revista eletrônica dos padres paulinos dos Estados Unidos, 11-02-2010, e reproduzida via IHU. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

O single de Lady Gaga Born This Way é um hino ao diferente. A música oferece palavras de encorajamento a todos que estão às margens da sociedade, incluindo homossexuais, membros de minorias raciais e até mesmo os "deficientes". Ela afirma que "Deus não comete erros" e depois acrescenta:
Se as deficiências da vida [Whether life’s disabilities]
deixaram você desamparado, assediado ou provocado [left you outcast, bullied or teased]
regozije e ame-se hoje [rejoice and love yourself today]
Porque, baby, você nasceu assim [’cause baby, you were born this way].
Gaga está espalhando as boas novas de Jesus Cristo, seja intencionalmente ou não. Suas opiniões sobre o celibato, sobre a força pessoal e a individualidade certamente são louváveis. E muito mais convincente é o que ela tem a dizer sobre a natureza humana e o sofrimento humano.

Ao contrário de Madonna, a quem ela é muitas vezes comparada, Lady Gaga parece compreender que a natureza humana não é redutível ao sexo. Os seres humanos são complicados, e Gaga capta isso. Podemos ser feios – é verdade –, mas Gaga entende que a beleza humana só tem sentido em contraste com a feiura humana. Então, sim, somos monstros (decaídos), mas, como diz a canção, "nascemos para sobreviver" (nascidos para a vida eterna).

Pelo fato de a Lady Gaga ser capaz de abraçar o feio e, ao fazer isso, abraçar o bonito, ela tem uma sensibilidade e um apreço pelo inevitável sofrimento humano. Ela reconhece que as pessoas lutam constantemente com a sua natureza decaída, incertas de seu potencial para serem boas. Ela reconhece que a vida deixa as pessoas para baixo. E, assim como ela sempre impele seus monstrinhos [como ela chama seus fãs] a amar a si mesmos, ela acrescenta (em Born This Way):
Seja prudente [Give yourself prudence]
e ame seus amigos [and love your friends].
A partir da sua atenção ao sofrimento humano, ela me lembra do tema cristão da união dos sofrimentos pessoais aos sofrimentos de Cristo. Gaga está exigindo que os marginalizados sejam visto como valiosos, bonitos, por serem pessoas como Cristo.

Lady Gaga, sem dúvida, é excêntrica. Ela pode ser grotesca. Ela pode ser vulgar. Mas é um modelo de virtudes cristãs, precisamente porque parece improvável que ela o seja. Ela tem o potencial de introduzir Deus a tantas pessoas, precisamente porque não parece que ela esteja fazendo isso. Lady Gaga está dizendo a um público enorme e dedicado que Deus o ama.

* * *

Em outro artigo interessante, também reproduzido via IHU, a relação do novo vídeo de Lady Gaga [Judas, lançado na quinta-feira passada] com a religião e por que os inimigos de Gaga devem odiá-la são analisados por Phil Fox Rose, coordenador-assistente da rede católica Contemplative Outreach, de Nova York e colunista de espiritualidade pessoal do sítio Busted Halo, revista eletrônica dos padres paulinos dos Estados Unidos, 05-05-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

O vídeo para a música Judas de Lady Gaga estreou, encerrando semanas de especulação levantada por vários porta-vozes religiosos que o denunciaram antes de vê-lo. O vídeo se centra em uma gangue de motociclistas. Jesus é o líder. Judas é um membro grosseiro. E Gaga está dilacerada devido à sua atração por ambos.

Como uma primeira reação rápida ao videoclipe, achei-o tocante, tanto artística quanto espiritualmente. O que sempre me fascinou e me frustrou é a desconexão entre os inimigos de Gaga e o que eu e alguns de meus amigos vemos em seu trabalho. Muitos dos meus amigos jovens-adultos religiosos gostam de Gaga. Grande parte dos demais não têm nenhum problema sério com ela. Eles entendem o que ela está tentando fazer, mesmo que não seja do seu gosto. Isso também é verdade entre os católicos, os protestantes da linha principal e os evangélicos. Então, por que Gaga estimula uma pessoa devota e intimida outras?

Alguns afirmam que Gaga explora símbolos cristãos e especialmente católicos pelo valor de choque, ao invés de admitir que poderiam fazer parte de uma tentativa honesta de lutar com as questões espirituais. Eu acho que alguns críticos simplesmente têm dificuldade em acreditar que alguém como Gaga possa ser sincera. Ou talvez essa seja apenas a maneira mais fácil de repudiar o seu trabalho.

Não me interpretem mal. Eu me escondi ao vê-la vestida em uma fantasia de freira fetichizada no clipe Alejandro, que, entre os seus hits, tinha até então o menor valor redentor. Mas eu realmente acho que ela estava tentando expressar algo sinceramente, externalizar seus conflitos mediante o imaginário.

No vídeo Judas, Gaga (aparentemente como Maria Madalena, apesar de alguns versos da história serem obscuros tanto na letra quanto no vídeo) passeia com Jesus em uma gangue de motociclistas, enquanto suspira pelo bad boy Judas, um fora da lei bêbado que também está na gangue. Vemos Gaga se afastando de Judas em favor de Jesus várias vezes. Em um ponto, ela lava os pés de Jesus pouco antes dos versos mais notáveis da música:
Eu quero amar você [I wanna love you]
Mas algo está me puxando para longe de você [But something’s pulling me away from you]
Jesus é a minha virtude [Jesus is my virtue]
Judas é o demônio ao qual me agarro [Judas is the demon I cling to]
O diretor de criação de Lady Gaga, Laurieann Gibson, descreveu o processo criativo pelo qual a equipe passou na finalização do vídeo Judas desta forma: "Foi incrível, porque ter essa conversa sobre salvação, paz e a busca da verdade, em uma sala com não crentes e pessoas que creem, para mim, foi dizer que Deus está ativo de forma muito grande".

Isso não é algo da música pop. É um fenômeno cultural. E que, talvez, seja onde cheguemos à raiz do problema que alguns têm com Gaga. Diferentemente de qualquer outra estrela pop atual de nível mundial, Gaga escreve, fala e luta abertamente com as questões espirituais em quase todas as canções que ela escreve. O mais chocante na nossa cultura atual é que ela menciona Jesus pelo nome. Em Judas, ela diz: "Jesus é a minha virtude". Em You and I, sobre um antigo namorado que ela chama de Nebraska, Gaga diz: "Há apenas três homens aos quais eu servi toda a minha vida / Meu pai, Nebraska e Jesus Cristo".

Então, enquanto alguns podem querer rejeitá-la como falsa, maliciosa, é exatamente a autenticidade de Gaga que é uma ameaça. Enquanto um artista que canta explicitamente sobre sexo é claramente definido no seu papel fora do debate espiritual, Gaga se atreve a pular bem no meio dele.

E, enquanto ela está lá, com um púlpito excelente falando para milhões de pessoas, ela se atreve a dizer coisas como: "Eu sou bonita da minha forma, porque Deus não comete erros". Isso é muito mais perigoso nas mentes de algumas pessoas do que música pop vazia. Gaga chama seus fãs de "monstrinhos", sua forma de dizer que somos todos decaídos, todos imperfeitos, e que são os desajustados da sociedade que podem ensinar aos confortáveis uma coisa ou duas sobre o amor e a compaixão de Deus. E é isso o que ela está fazendo.

8 comentários:

Joel Martins Cavalcante disse...

Lady Gaga não seria uma das pedras que Jesus mencionou nos evangelhos?

"se esses calarem até as pedras clamarão..."

Sou fã dela!

Equipe Diversidade Católica disse...

O Espírito sopra onde quer, e quem somos nós, em nossa limitação, para ditar a Deus aonde ir e como falar? :-) Abraço, Joel!

S.A.M disse...

Foi uma análise tão bacana que me sinto no dever de repassar. Gaga faz com certa despretenção se colocar a questão da fé através de coisas do mundo pop e faz com que muita gente consuma isso sem saber que o está fazendo.

Muito bom!

Equipe Diversidade Católica disse...

Que bom que vc gostou, S.A.M.! :-) Abs!

Dr Johnny Strangelove disse...

Uma observação interessante sobre esse novo disco da Gaga ... não suporto o som dela como música, porém negar que ela tem uma atitude diferente, aquela que intimida e reflete ... não tem preço ...

Precisamos de mais Lady Gagas, que não temem ao feio que incentiva a qualquer um do seu poder interno.

Abraços

Equipe Diversidade Católica disse...

"Precisamos de mais Lady Gagas, que não temem ao feio que incentiva a qualquer um do seu poder interno."

Sim, amigo, é preciso romper com a ditadura da aparência e aprender a dialogar também com o que foge aos padrões, não é?

Abs! :-))

Renato Pach disse...

Lindas palavras... lindas mesmo... è realmente ela "incomoda" num bom, sentido. ;D AMOGAGA

Equipe Diversidade Católica disse...

É, Renato, é preciso manter viva a nossa capacidade de nos "incomodarmos" e de "revolucionar", também num ótimo sentido, não é? :-)

Grande abraço! :-)

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