sexta-feira, 22 de abril de 2011

Converter… depressa


O Senhor Jesus, cuja humanidade foi perfumada e ungida pelas mãos amorosas de Maria, em Betânia,sente no seu coração toda uma perturbação pelo mistério da traição, sem deixar de amar e de acompanhar. O conhecimento do que está acontecendo não faz senão tornar mais aguda a consciência e a tornar, ainda mais forte, o consentimento e o abandono. O profeta Isaías nos mostra o Servo do Senhor consumido pela escuta e seguro de uma proteção divina que não poupa, mas reforça o dinamismo de uma fidelidade que custa muito caro: «Escondeu-me à sombra de sua mão, tornou-me como flecha afiada, colocou-me na sua aljava» (Is 49,2). Enquanto Maria, em Betânia, intuiu o segredo do coração de Jesus e o explicitou, os discípulos, sentados à mesa com o seu mestre, não compreendem, quase transtornados pelomedo de ter que compreender, e temerosos de ter que consentir. Aquilo que o Senhor Jesus diz a Judas: «Faze-o depressa!» (Jo 13,27) refere-se muito mais ao seu desejo de consumar depressa o seu amor, para que seja «luz» (Is 49,6) no coração de todo homem e toda mulher, e se faça claro, na terrível noite da traição, que o amor não desiste, mesmo quando é aniquilado. O amor não somente não desiste, mas a rejeição parece exaltar-lhe o perfume: «Enquanto estava à mesa com os seus discípulos, Jesus ficou profundamente perturbado e declarou...» (Jo 13,21).

Não devemos identificar a perturbação do Senhor Jesus pensando somente na traição de Judas. Na verdade, o evangelista João, de acordo com os sinóticos, relata-nos claramente a traição de todos os discípulos na hora da prisão de jesus, comparticular destaque à atuação de Simão Pedro que, tira fora a espada diante de um servo do sumo sacerdote, nega o seu discipulado diante da língua de uma serva e, de um modo tão claro que é impossível esquecer: «A fraqueza da Igreja está como que inserida em uma história de traições, e assim, é absolutamente visível a sua fraqueza»[1]. Uma fragilidade que, no entanto, é vivida de modo muito diferente para cada um. Os três discípulos que encontramos diretamente no evangelho de hoje – Judas, Simão Pedro e o discípulo amado – colocam-nos diante da responsabilidade de escolher como reagir e como viver a nossa participação no mistério de Cristo.

Judas, a quem o Senhor oferece o primeiro «pedaço de pão» (Jo 13,26) da ceia pascal, confirmando assim todo o seu amor, e oferecendo uma nova possibilidade de não ser sugado pelas trevas, mesmo assim, deixa-se como que engolir: «Tomando o pedaço de pão, saiu imediatamente. E era noite» (13,30). No entanto, existem outras possibilidades também, como aquela de Simão Pedro que, não obstante a sua negação, que fará cantar o «galo» (13,38) da manhã do dia de Páscoa, não fugirá do bálsamo doolhar misericordioso de Cristo; e também o discípulo amado, que se inclina «sobre o peito de Jesus» (13,24). Estes três apóstolos convivem no nosso coração, sem que possamos ter muito claro quem dos três está dominando, no momento. Peçamos ao Senhor que possa ter piedade do traidor e do medroso que estão em nós, e que fortaleça o amigo que queremos ser, e ajude-nos a ter acoragem de permanecer. De todos os modos, não tem tempo a perder, porque o amor, como a morte, não espera... então, «rápido!» (13,27).

- Semeraro, M. D., La messa quotidiana, Bologna, aprile 2011, 203-205.

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