segunda-feira, 28 de março de 2011

Adorar "em espírito e em verdade": a nova santidade

Foto: Emmy.Leah

Um dia, no calor do meio-dia, Jesus, cansado e com sede, parado junto a um poço, pediu água a uma mulher de uma tribo estrangeira, hostil. Espantada por ele ter ignorado a divisão entre eles, mas, também, por ser uma mulher resoluta, independente, ela o desafiou. A conversa o levou a fazer a única revelação direta que ele dá de si mesmo nos evangelhos. Normalmente, estava preocupado em mudar a mente das pessoas e aportar-lhes a sabedoria, em vez de dar-lhes mais rótulos já prontos. Embora fosse de determinada localidade e se identificasse com seu próprio povo e cultura, Jesus também se colocava em uma perspectiva universalista. Com esta vantagem, ele faz uma grande declaração, que inicia uma evolução do papel da religião nos assuntos humanos, algo que ainda exige esforço para ser cumprido: "Os adoradores que o Pai quer são aqueles que adoram em espírito e em verdade".

Este é o tema do terceiro domingo da Quaresma, que destaca tudo o que a Quaresma deve nos ensinar.

A verdadeira adoração agora se identifica com o que Simone Weil, dois milênios mais tarde, chama de a "nova santidade". A santidade não pode mais ser identificada com a observância de um conjunto de regras e tradições. Ser santo significa ser simultaneamente um filho de Deus e um cidadão do mundo.

Esta visão revolucionária e magnífica da excelência humana eleva o espírito humano, mas também nos enche de uma dolorosa sensação de perda e de nostalgia. Pode parecer que o "local" foi evaporado ou absorvido pelo mercado "global". As pessoas religiosas que amam sua cultura e suas tradições acham difícil mirar para além das suas próprias fronteiras, focar um horizonte mais distante, sem sentir que perderam ou mesmo traíram suas raízes. Esse é o custo de deixar a si mesmo para trás.

No entanto, o universalismo da mente de Cristo não é como a nossa globalização contemporânea. Em vez de apagar as diferenças ele as celebra, mas dentro de uma catolicidade, uma universalidade, que redefine sua localidade e lhes nega a indulgência egoísta da concorrência com os outros.

Esta é a direção em que estamos ainda em movimento, sem jeito às vezes - mas, felizmente, não há como voltar atrás.


- Laurence Freeman, OSB
Publicado originalmente no site da Comunidade Mundial de Meditação Cristã no Brasil.

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