sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Imagem de Deus e Diversidade (2): a Revelação é um processo


Reproduzo abaixo a segunda parte do artigo Imagem de Deus e Diversidade, publicado originalmente no nosso site e cuja reprodução neste blog começou na quarta-feira. Após abordar o papel da Igreja, da Teologia e da Revelação e a impossibilidade de essas instâncias virem a esgotar Deus, reflito agora sobre a mediação humana e o caráter histórico da Revelação.

Igualmente importante é compreendermos que mesmo o dado objetivo, o conhecimento real que nos vem pela Revelação divina, não está isento de ser também uma palavra humana, ou melhor, de ser uma experiência do “dar-se” amoroso de Deus que se realiza efetivamente por meio de ações e palavras humanas.

Muitas vezes nós temos a romântica compreensão de que a Revelação significaria um rasgo no humano, uma interrupção que poria no meio da transitoriedade do tempo, das variações da cultura, algo eterno, no sentido em que cada palavra ou compreensão ligada à Revelação não estaria subjugada aos ritmos das palavras humanas, que se fazem e modificam ao longo de um processo. Tendemos a achar que, sendo divina, a Revelação nos chega pronta e definitivamente esclarecida e assim permanece para sempre.

No entanto, Deus, querendo se comunicar aos seres humanos, o faz encarnando-se numa dinâmica tipicamente humana. A Revelação não surge como um dado objetivo que rasga a história em um momento privilegiado, mas é fruto de um longo processo no qual, através dos acontecimentos – desde os mais incríveis aos mais ordinários da vida de um povo –, Deus vai costurando um sentido para tudo e por meio da sua inspiração, permite ao ser humano, compreendê-lo e comunicá-lo de forma fidedigna.

Esta historicidade da Revelação, afirmada pelo Concílio Vaticano II de forma tão clara, é importante porque une dois polos aparentemente separados: o tempo e a eternidade, o definitivo e o efêmero. E une não de maneira justaposta, superficial, mas faz com que o humano se torne a mediação do divino, até o ponto de, se no pensamento ainda é possível uma distinção entre ambos, na concretude da vida, jamais. É por isso que olhamos para um judeu do Oriente Médio que viveu algumas poucas décadas e afirmamos a seu respeito: Deus.

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